Você já sentiu dores na mão ou nos ombros após cair no chão? Caso sua resposta for sim, você não está sozinho – especialmente quem já atingiu a casa dos 60 anos.
O Estudo Longitudinal da Saúde do Idoso, do Ministério da Saúde, mostra que um em cada quatro idosos brasileiros sofre pelo menos uma queda por ano. Nos primeiros quatro meses de 2025, mais de 67 mil atendimentos ocorreram após quedas, sendo que 62 mil deles resultaram em internações.
Por isso, após uma queda, é comum surgirem dúvidas: “é só dor passageira ou pode ser algo mais grave?”. Pensando nisso, neste blog, o Dr. Fernando Tamanaga, especialista em ombro do Hospital Ortopédico AACD, explica quais são as principais lesões nos membros superiores após quedas, como identificá-las e quando procurar atendimento médico. Boa leitura!
Anatomia: como mão e ombro estão conectados
Entender como mão e ombro trabalham juntos ajuda a identificar rapidamente quais lesões podem afetar a mobilidade após uma queda.
Começando pelas mãos, 27 ossos formam a parte mais distante do tronco, divididos em três partes:
- O carpo, que fica no pulso;
- O metacarpo, que forma a palma da mão;
- As falanges, que são os ossos dos dedos.
Na parte muscular, há dois grupos principais:
- Músculos intrínsecos, localizados dentro da própria mão e são responsáveis por movimentos finos como abrir e fechar os dedos;
- Músculos extrínsecos, que vêm do antebraço e garantem força e amplitude aos movimentos.
Além das articulações, que permitem o movimento, e dos tendões, que transmitem a força para os músculos, três nervos principais controlam a sensibilidade e os gestos da mão:
- o nervo mediano atua sobre o polegar, o indicador e parte do dedo médio;
- o nervo ulnar comanda o dedo mínimo e o lado interno da mão;
- e o nervo radial ajuda a estender o punho e os dedos.
E o ombro?
Subindo pelo antebraço e passando por cotovelo e braço, chegamos ao ombro: articulação mais móvel do corpo e base da força e controle para a parte superior do corpo. De estruturas ósseas importantes, a escápula funciona como uma plataforma móvel, a clavícula conecta o braço ao peito e o úmero é o osso do braço. Na parte muscular, o manguito rotador estabiliza o ombro, o deltoide ajuda no movimento em várias direções e o trapézio e o serrátil anterior ajudam a mover a escápula, parte essencial para levantar o braço
Em resumo, o ombro posiciona o braço para que a mão realize movimentos precisos, enquanto a mão depende da estabilidade do ombro para exercer força e coordenação. Por isso, após uma queda, o diagnóstico precoce é essencial: uma lesão no ombro pode limitar o movimento de todo o braço.
As principais lesões
As lesões causadas por quedas variam conforme a altura:
- Queda da própria altura: Ocorre quando a pessoa tropeça ou perde o equilíbrio no nível em que está. Geralmente resulta em lesões menos graves, mas pode incluir lesões internas (clinicamente ocultas), especialmente na cabeça.
- Queda de altura: Acontece quando a pessoa cai de um lugar elevado, como escadas, telhados ou outras estruturas. Tais quedas costumam resultar em lesões mais sérias e complexas.
Os principais tipos de lesão são:
- Fraturas: Traumas, como quedas ou impactos, ou doenças que enfraquecem o osso quebram ou racham o osso e causam a fratura. Os principais sintomas incluem dor intensa e persistente no local, dificuldade ou incapacidade de mover o membro afetado, inchaço, deformidade visível e, em casos de fratura exposta, ferimento aberto na pele.
- Luxações: é o deslocamento de dois ou mais ossos com relação ao seu ponto de articulação normal. Os principais sinais são: dor intensa na articulação, perda da anatomia normal da articulação, impossibilidade de movimentar a articulação, inchaço e fraqueza muscular e sensação de que a articulação “saiu do lugar” ou “deslocou”.
- Entorses e distensões: são lesões onde um ligamento é estirado ou rompido devido a um movimento brusco e violento. Os principais sintomas são dor localizada na articulação, inchaço, dificuldade e dor ao movimentar a articulação e pode haver estalido no momento do trauma.
- Contusões: trauma local sem lesões estruturais locais, podendo ocasionar hematoma e inchaço local.
Como diferenciar a lesão na mão da lesão no ombro?
Em geral, a dor na mão se limita ao membro e ao punho, sendo considerada uma lesão local.
Entenda mais sobre dores na mão
Em caso de irradiação dessas dores para outros membros, perdendo a força e alterações funcionais na mão, é possível que a lesão primária seja no ombro, com consequências na mão.
Entenda mais sobre dores no ombro
Para diagnóstico mais preciso, o exame clínico detalhado e, se necessário, exames de imagem (raio-X, ultrassom e ressonância magnética) são essenciais.
Quando procurar o médico?
Procure um médico após uma queda se houver deformidade, dor muito forte/persistente ou dificuldade para se movimentar. Quanto mais rápido o diagnóstico, maiores as chances de recuperação total.
A necessidade de cirurgia após quedas depende da gravidade, tipo e características da lesão. Geralmente, elas são recomendadas em casos de:
- Fraturas expostas: quando o osso rompe a pele, com risco de infecção;
- Fraturas instáveis ou com desvio significativo: quando fragmentos ósseos não podem ser alinhados sem intervenção cirúrgica;
- Fraturas intra-articulares: quando envolvem a superfície da articulação e exigem alinhamento preciso para evitar perda funcional;
- Luxações abertas: geralmente as luxações são tratadas apenas com a realocação do osso no lugar e a imobilização, mas elas podem necessitar de cirurgias se forem luxações abertas, onde o osso fica exposto, ou em casos de outras lesões associadas, como alguma fratura, contusões de nervo, vasos ou tecidos moles;
- Entorses graves: assim como as luxações, as entorses normalmente são tratadas com repouso, gelo, imobilização e fisioterapia. Porém, a cirurgia pode ser opção em casos mais graves, quando há uma ruptura total dos ligamentos ou há uma instabilidade articular significativa.
A prevenção
Algumas ações podem ser tomadas para evitar quedas, não apenas de idosos, mas de pessoas em qualquer faixa etária. São elas:
- retirar tapetes soltos e fios expostos;
- melhorar a iluminação, principalmente nos corredores e banheiros;
- instalar barras de apoio em locais estratégicos, como banheiros e escadas;
- ajustar alturas de camas, cadeiras e vasos sanitários;
- garantir pisos antiderrapantes e superfícies firmes.
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